Meteoro
2018
Meteor
Vista da Exposição
Exhibition view
Mercúrio
Escultura - Cobre
Arena
Fotografia - Pigmento mineral sobre papel e folha de cobre
Vitória
Escultura - Cobre banhado em prata
Meandros
Colagens - Fitas adesivas de alumínio e de Cobre
Zeus/Posseidon
Escultura - Cobre oxidado
Discóbolo
Escultura - Cobre Polido
Mercury
Sculpture - Copper
Arena
Photography - Mineral pigment on paper, copper sheet
Victory
Sculpture - Copper plated in silver
Meanders
Collage - Aluminium and copper tape
Zeus/Posseidon
Sculpture - rusty copper
Discóbolo
Sculpture - Polished copper
Meteoro
WMT
Noturno o rio das horas flui
do manancial que é o amanhã
eterno...
Miguel de Unamuno
cartaz da exposição
É assim: um dia você está abrindo um buraco no quintal da sua casa para plantar ou reparar um encanamento, e depois de suar bastante e pensar “isso não acaba nunca”, de repente sente que uma resistência e um som entre metálico e líquido se segue a cada investida. Abaixa-se, acaricia curioso a parte visível da superfície do objeto encontrado, e percebe, à medida que fica mais limpo, uma lisura jamais sentida. “É como tocar uma nuvem”, pensa. A uniformidade sem imperfeições, mesmo sem jamais ter sido polida, e a quase absoluta falta de atrito, anunciam um impossível objeto metafísico. Tudo indica que você encontrou o fragmento de algo muito diferente de tudo que já viu, mas que de alguma maneira curiosa, lhe é especialmente familiar. Uma familiaridade de parentes distantes - distantes no tempo -, não de ontem nem de muito atrás, mas de outro lugar, no futuro, e se reconhece em algo que ainda não veio a existir.
“Como essa coisa futura contém tanto de mim? Como um corpo, objeto ou vestígio pode ter tais atributos?” E encontra a resposta além das palavras, percebe que nele as formas são as mesmas que se repetem seguidamente de maneira recombinada, aquelas mesmas formas que atravessam o tempo desde o primeiro lampejo do universo até seu implacável fim. Mesmo com todas as variações possíveis de dimensão, escala, volume, ou até que tudo se multiplique ou se divida até o limite, há alguma medida na qual cabe a humanidade que é inerente a todo ente e que atravessa as eras, ou talvez haja em nós algo tão futuro quanto anterior que sabe da eternidade.
E o tempo não é mais algo a se considerar. Não se pode mais senti-lo e menos ainda apreendê-lo. Agora, um dos primeiros homens, aqueles antigos que recebem inúmeros nomes, cava a terra à procura de tubérculos – os planos são para um ensopado, ele já tem posse do fogo. Seus dedos tocam algo e ele continua a cavar, então retira da terra um objeto quase cilíndrico, aberto de um lado e tampado de outro. Deslumbra-se com a transparência aquática do corpo sólido e o modo como ele reflete a luz – luz essa matéria impalpável que atravessa o tempo, que se deixa ver e evidencia tudo que se pode tocar, mostra o que está longe, mede as distâncias, as encurta ou as aumenta-; surpreende-o como ela atravessa o vazio e cintila nas diferentes faces do corpo estranho que tem nas mãos.
Reconhece nesse corpo apenas suas características de objeto meio cilíndrico, transparente, algo que pode, se lhe ocorrer, fazer tudo mudar. Intui que aquilo é capaz de conter o incontível e que seu limite como ser vivo curioso e inventivo está muito distante.
Esses entes que apontam o futuro; esses “objetos eternos” que ingressam no tempo; esses alephs que tudo contêm, estão prontos para serem encontrados e outros ainda virão a ser. Todos os atributos necessários para serem, em sua plena potência, o que são, o que foram ou serão, neles já estão contidos simultaneamente, da decrepitude ao viço. Quase divinos, são o manancial das possibilidades em diferentes épocas, a depender de olhares e corações mais doces ou mais amargos, são deuses, livros, poemas, incríveis naves dos mares, dos ares ou do espaço, talvez até esculturas.
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© wagner malta tavares