Hulk
por Rafael Campos Rocha
A paranóia nuclear, fabricada principalmente pelo governo estadunidense durante a guerra fria, pode ser vista em diversas manifestações culturais da época. Histórias em quadrinhos como “O Incrível Hulk”, cujo protagonista nasce da exposição de um humano à radiação é só mais um exemplo.
O ressurgimento literal do tema, e algo da “estrutura de sentimento” da obra Hulk de Malta Tavares, podem ser, mais uma vez, um sinal dos tempos. Ou mais um sinal que “os tempos” infringem as pessoas, (mais especialmente) aos artistas – esses especialistas, mesmo que muitas vezes à própria revelia, imagens decifradoras de seu próprio tempo.
Dentro da trajetória de Malta Tavares, podemos perceber uma mudança de visão que ocorreu de 2001 para a presente exposição. Naquela época Tavares fazia nascer do próprio chão, formas geométricas que se lançavam otimistas no espaço – ainda que de forma um tanto atabalhoada – procurando conquistá-lo com vetores de lã colorida.
Tavares, em sua nova mostra, vira essa geometria para dentro, em um movimento entrópico e até mesmo pessimista. A indicação luminosa, antigamente conseguida por meio da lã colorida, procurava dar um sentido para o espaço ao redor. Essa luz que agora habita o interior da peça de metal, e os laivos verdes que escapam da couraça, não prometem uma potência capaz de organizar o mundo, mas remetem muito mais a um possível caos de relações. A sugestão de uma potência oculta é, na verdade, a maior semelhança com o personagem do gibi, sem no entanto render tributo à liberdade freudiana do personagem, que se faz ainda mais poderoso por não seguir as amarras civilizatórias, podendo punir como bem entender qualquer ato terrorista que o perturbe em sua magnânima inércia instintiva.
Voltando à escultura, se pensarmos na tradição espiritualista da luz como Verdade, na presente obra ela parece incapaz de vencer a armadura pop-kitsch que a mantém dentro dos limites da sua intangibilidade. A conotação do simulacro vencedor não pode ser ignorada. A luz em Tavares é – como a imaterialidade – a morte. A existência só pode ser conquistada pela expansão sem pudores da vontade individual – e feita em matéria – no presente. Portanto, a geometria de Tavares, totalmente baseada na perspectiva renascentista e que, como ela, tenta revelar a Razão oculta por baixo da pele dos fenômenos, parece recuar, como que temerosa dessa própria revelação. Afinal, todas as direções lançadas pelos cortes na couraça parecem opostas ao centro luminoso da peça, como se quisesse distrair-nos. O que talvez seja uma interpretação maravilhosamente eficiente do tipo de interesse por trás da fatura das imagens da cultura de massa superficial e espetacular a que sua obra se refere. Mas se por um lado perdeu-se parte do otimismo do trabalho inicial, por outro, as próprias conotações ideológicas que transpassam pelo trabalho de Malta Tavares ganharam clareza de expressão graças a um crescente apuro técnico de seus meios. E é esse apuro, não qualquer defesa apaixonada de uma doutrina da qual sejamos solidários, que buscamos em uma obra de arte.
Rafael Campos Rocha, abril de 2006
Hulk
by Rafael Campos Rocha
The nuclear paranoia, generated mainly by the American government during the Cold War, can be seen in various cultural manifestations of that time. Cartoons such as “The Incredible Hulk”, whose main character is originated from the exposure of a human being to radiation, is just another example.
The literal resurgence of the theme, and something from the “structure of the feeling” in Malta Tavares’s “Hulk” could once again be a sign of the times. Or maybe a sign that “the times” impose on the people, (more specifically), on artists – these specialists, even if in their own absence –, deciphering images of their own time.
In Malta Tavares’s course, we can see a change in vision that occurred from 2001 to this present exhibition. Back then, he used to discharge, from the ground, geometric forms that launched themselves optimistically in space – even if in an awkward manner – trying to conquer it with colored woolen vectors. Tavares, in this new exposé, turns this geometry inwards, in an entropic and even pessimistic movement. The light indication, formerly acquired by the colored wool, tried to give meaning to the space surrounding it.
This light that now inhabits the interior of the metal piece, and the green spots that escape its armor, do not hold the promise to potency that is capable of organizing the world, but rather refer to a possible chaos in the relationships. The implication of a hidden force is, in fact, the biggest resemblance to the cartoon character without paying homage to its Freudian freedom. By not following into the civilizatory chains, it makes the character even more powerful, allowing him to punish any terrorist act that disrupts his instinctive and magnanimous inertia.
Back to the sculpture, if we think about the spiritualistic tradition of light as The Truth, in this work it looks incapable of overcoming the pop-kitsch armor that keeps it within the limits of its intangibility. The connotation of a winning ‘simulacro’ cannot be ignored. Light in Tavares is – like immateriality itself – death. The existence can only be conquered by the boastful expansion of one’s will – and materialized – in the present.
Thus, Tavares’s geometry, completely based in the Renaissance perspective and much like it, tries to reveal a hidden Reason underneath the skin of phenomena, seems to retreat, as if fearful of this very revelation. After all, all the directions launched by the cuts in the exterior look opposite to the piece’s luminous center, as if to distract us. Maybe this is an interpretation wonderfully efficient of the kind of interest there is underneath the making of the superficial and spectacular mass culture images to which this work refers. But, if, on the one hand, part of the initial work’s optimism is lost, on the other the very ideological connotations that travel across Malta Tavares’s work have gained clarity of expression, thanks to a growing technical sophistication in his means. And this sophistication, as opposed to some passionate vindication of a doctrine toward which we feel sympathetic, is what we look for in a work of art.
Rafael Campos Rocha, April, 2006
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